Acadêmicas de Psicologia produzem documentário “Mulheres Negras”
26/07/2021Confira o documentário “Mulheres Negras”, produzido pelas acadêmicas do curso de Psicologia, Rosangela Quingerski e Vanessa Dias. A atividade foi desenvolvida na disciplina de Psicologia Social.
Produção Audiovisual: @bzz_camporeal
“Em nossa sociedade ainda se tenta pintar uma ideia de igualdade e quando pensamos nas mulheres vemos o quanto isso não é verídico. Quando se trata de mulheres negras percebemos que a ideia de igualdade não é tão igual assim. A ideia do trabalho foi promover uma reflexão e dar voz as essas mulheres negras que querem apenas o seu espaço e reconhecimento por quem são. Como diz Djamila Ribeiro: Se o racismo diz que eu não sei, eu vou dizer que sei ainda mais. Para mim é muito importante desmistificar isso. Eu quero ser eu, não quero ser idealizada nem inferiorizada. Assim como todas as pessoas, quero dizer que há dias em que sei, e dias em que não sei. Às vezes eu choro e às vezes eu rio, às vezes eu quero e às vezes eu não quero. Quero ter essa liberdade humana de ser eu”. (Acadêmica Vanessa Dias)
Perceber a psicologia na sociedade é o papel social do psicólogo. A pesquisa, sobre as mulheres negras, teve início numa análise de como a psicologia social entende o indivíduo, como este se constitui, a que grupo pertence e quais são as ações que este indivíduo desempenha no seu papel social.
Tudo começou em 2019 quando me percebi num questionamento intrigante e compartilhei esta pergunta com outras pessoas: Conhece alguma psicóloga negra?
A pergunta que nos chamava a atenção era: se a população de pretos e pardos no Brasil é de 54%, onde estão?
Planejamos e fomos falar com mulheres negras, buscamos entender a que grupo social se sentiam pertencentes, quem elas eram, qual papel social desempenhavam, como elas percebiam a mulher negra inserida na sociedade, se elas se sentiam pertencentes ao contexto social que vivem e como se veem no contexto da história do Brasil.
Dentro desta análise, observamos também a visão da mulher negra com relação ao papel do psicólogo, como elas percebem a importância da psicologia.
O objetivo foi analisar o fenômeno social em que a mulher negra está inserida, identificar circunstâncias que as envolvem e são naturalizadas, cujo papel do psicólogo é desnaturalizar.
Quando iniciamos esta pesquisa, fui inspirada pela fala de duas ativistas e escritoras negras, Djamila Ribeiro e Joice Berth, no Congresso Internacional, em Irati, agosto 2019. O tema debatido no evento me deixou perturbada e me inspirou a propor o desenvolvimento deste trabalho com as mulheres negras. Além das autoras citadas, Paulo Freire foi base da pesquisa, ele que foi precursor da análise aplicada à realidade de grupos oprimidos.
Pois bem, vivemos em tempos modernos e nesta era contemporânea é fundamental refletir profundamente sobre um racismo naturalizado, impregnado na nossa cultura, que vem há séculos. Ao pensar no negro requer analisar as estruturas da pirâmide social e entender que este está em opressão na base da pirâmide. É preciso lembrar que esta base é de uma classe discriminada e sua estrutura tem alicerces fragilizados.
Diante disso, a presente pesquisa questiona:
Onde está a mulher negra?
Que mulheres são essas?
Qual o seu lugar social?
A pesquisa evidencia que existe na mulher negra uma invisibilidade que é consequência da articulação dos grupos que são subalternizados dentro da pirâmide social. Existe visivelmente um abismo nas questões de oportunidades da mulher negra na educação, saúde e economia. A pesquisa oportuniza identificar que a mulher negra sofre desigualdade social, tem seus direitos violados com a discriminação de sua raça, seu gênero e sua classe. Quando falamos em oportunidades é preciso lembrar que as minorias sociais são pobres e isso geralmente impede de se moverem na pirâmide social, são poucas as chances para mudar.
Por fim, vale ressaltar que todos temos o direito de falar, porém, uma fala do lugar que está. A mulher negra vai se expressar com seu sentimento, convivendo com racismo diário, falando da sua realidade, com sua subjetividade e sua própria percepção.
Isso me fez pensar na dor psicológica da mulher negra, quem está cuidando disso?
São danos psicológicos, baixa autoestima até ela adoecer.
Mas quem reconhece a dor da mulher negra?
Ela é vista culturalmente como forte, guerreira, porém, muitas estão chorando, fragilizadas, porque são humanas. As mulheres negras sofrem com o racismo das próprias mulheres, sofrem com o celibatário onde homens negros, que no desejo de embranquecer, negam suas origens e preferem mulheres brancas, sofrem com a morte violenta de seus filhos, reflexo de um genocídio silencioso de jovens negros.
As mulheres negras estão sofrendo silenciadas, invisíveis e esta pesquisa foi uma forma de dar voz e oportunidade de serem vistas e ouvidas, porque elas existem!
(Acadêmica Rosangela Quingerski)